sexta-feira, 14 de setembro de 2012


"Ruah-Exú"

O texto é do Prof. Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro, disponível em: http://peroratio.blogspot.com.br/2010/11/2010570-ah-esses-tradutores-de-biblia.html
O título dado pelo ilustre teólogo à sua postagem é "Ah, esses tradutores de Bíblia...", mas não resisti à tentação de dar ao meu post - compartilhamento ipsis literis do texto do Osvaldo - o (sub-)título "Ruah-Exú" [que (não) me perdoem os estimados possíveis leitores cristãos ortodoxos...(rsrsrs)]*

1. Um capítulo relevante da "Teologia" é o capítulo das traduções da Bíblia. Um bom jornalista investigativo faria, sem dúvida, uma matéria avassaladora, se nos contasse os bastidores desse mercado. Nós, que lidamos ano após ano com os textos publicados por insuspeitáveis editoras, comprometidíssimas que são com a sã doutrina!, que sabemos dos rios de dinheiro que correm por sob essa ponte, e que conhecemos o resultado da tradução desses livros bíblicos, nós temos uma relativamente boa idéia de como funciona a coisa lá embaixo. Cá em cima, à luz do dia, o mercado conta os milhões - bilhões? - de dólares que isso rende.

2. A Bíblia está cheia - não é um nem são dois casos - de traduções mal feitas, sistematicamente repetidas, o que denuncia compromisso de censura ou absoluta impostura da parte das Editoras e dos tradutores. E isso é assim também porque não há nada mais herético do que uma Bíblia bem traduzida - explicar as boas traduções, dizer porque é assim, implica em revelar o funcionamento interno da "Teologia", das doutrinas, revelar que tudo não passa de cooptação da fé de povos originariamente não-cristãos, não-judeus, longos desenvolvimentos e transformações na história, ou seja, que doutrinas e Teologias, todas, sem exceção alguma, são coisas de homens e de mulheres, coisas que inventamos nesses dois milênios e meio de cristianismo/judaísmo - para o bem e para o mal, a fé é uma colagem de recortes.

3. Isso me remete, parenteticamente, a um parágrafo da monumental biografia que Losurdo escreveu de Nietzsche, que trancrevo: "conhecemos a violenta polêmica de Nietzsche contra a difusão da instrução que acabaria minando a necessária sujeição das vitimas sacrificiais da civilizaão. Também este tema está bem presente na história do pensamento moderno. Para Necker, 'a instrução é proibida aos homens nascidos sem propriedade'; seria uma catástrofe se eles desenvolvessem 'a faculdade de refletir sobre a origem das classes', da 'propriedade' e das 'instituições'; é preciso não perder de vista que a 'desigualdade dos conhecimentos' é 'necessária para a mnutenção de todas as desigualdades sociais; pôr em discussão 'a cegueira do povo' e promover junto dele 'o aumento das luzes' significaria fazer o ordenamento social vacilar'" (Domenico Losurdo, Nietzsche, o rebelde aristocrata, Revan, 2010, p. 397). Sempre, sempre, absolutamente sempre, esconder...

4. Ontem dei uma "aula-teste". Quero aqui usar essa aula-teste. Quero falar de 1 Sm 16,14-23. Primeiro, conto a história que você, se conhece, é assim que conhece, principalmente se é evangélico e lê as versões Almeida. Eis a "história" - falsa, porque ela é um embuste, se assim contada: porque Saul fez alguma coisa desagradável ao Senhor, o espírito de Yahweh (espírito do Senhor) sai dele e passa a atormentá-lo um "espírito mau da parte do Senhor". Porque, quando assim possuído, Saul passa a ter ataques apopléticos, os servos que o cercam diagnosticam o caso: trata-se de um "espírito mau da parte de Deus" que atormenta o rei - se um homem tocar a lira, o espírito mau da parte de Deus vai embora, e Saul fica bem. Saul toma providências. Acaba contratando Davi, e, o verso 23 dá conta disso, toda vez que o "espírito mau da parte de Deus" atormenta Saul, Davi corre, toca a lira, e o espírito mau vai embora.

5. Assim contada (mas, repito, é falsa a história), estamos diante de nossa própria mitologia. Há espíritos maus. De vez em quando, Deus os usa, dando-lhes ordens, para atormentar alguns de seus desafetos. É alguma coisa bem próxima da demonologia que cerca o povo evangélico. Se alguém quer ver esses espíritos maus em ação, basta adentrar um templo neopentecostal, aproximar-se e contemplar a cena dantesca... O que a narrativa faz é transportar essa Teologia/demonologia para o texto. Mas ao custo de fraude.

6. Não é nada disso que o texto hebraico diz. Na aula de ontem, apresentada a alunos de gradução com pouquíssimos conhecimentos de hebraico, eles mesmos me ajudaram, durante o exercício, a fazer a tradução mais adequadamente. E deixem-me contar a história tal qual a Bíblia Hebraica a conta.

7. Porque Saul fizera algo que desagradara a Yahweh, Yahweh retira de Saul o seu "espírito" e imediatasmente, um espírito mau "desde junto de" Yahweh passa a atormentar o rei. Não se trata de um "espírito mau da parte de Yahweh". A construção hebraica "me'et" é a junção de duas preposições - "min" (que indica origem = "desde") e "'et" (que, nesse caso, significa "com", "junto de"): no conjunto, indica localidade de origem. Assim, o que o texto hebraico diz é que, tendo saído de Saul o espírito de Yahweh, um espírito mau que fica junto de Yahweh passou a atormentá-lo.

8. Vendo isso, os servos imediatamente interpretam a cena: caramba!, um (ou o) espírito de Deus mau atormenta o rei. Sim - "espírito de Deus mau". A tradução - nas Almeidas - "espírito mau da parte de Deus" - nos v. 15 e 16 é um crime, um erro grave. No hebraico - ruah 'elohim ra'ah - não permite, sob nenhuma prestidigitação, aquela tradução: literalmente, só cabe: espírito de Deus mau. Nos dois versos - 15 e 16. O que o texto hebraico dá a saber é que se acredita, lá e então, em espírito de Deus mau, assim como se acredita em espírito de Deus bom. Na verdade, os dois conceitos são intercambiáveis.

9. No verso 23, quando a história vai ser, finalmente fechada, Almeida, desgraçadamente, corrompe, de novo, o hebraico: já vimos, quando o espírito mau de Deus (tradução errada) atormenta Saul, Davi toca a harpa, e o espírito mau vai embora. Mas não é isso que o texto hebraico diz. No v. 23, o que está escrito é que, quando o espírito de Deus - sim, ruah 'elohim - atormenta Saul, Davi toca a harpa, e, então, o espírito mau se vai... Vês? Para o texto hebraico, espírito mau desde junto de Yahweh, espírito de Deus mau, espírito mau e espírito de Deus é tudo a mesma coisa - trata-se, sempre, do mesmo agente.

10. A Teologia que está aí parece ser a seguinte: quando Yahweh quer fazer algo bom, manda seu secretário, ruah (espírito, vento, sopro), que, fazendo algo de bom, é interpretado como espírito de Yahweh (ou espírito bom de Yahweh). Quando Yahweh quer fazer algo de ruim, manda o mesmo secretário, e, então, ele é descrito como espírito mau de Yahweh Yahweh não faz, manda fazer, e quem faz, é, sempre, ruah, o espírito, de modo que, se faz algo bom, é bom, se faz algo mau, é mau. Simples assim. Estamos numa época em que o povo acredita que Yahweh pode fazer o que é bom e o que é mau - e ninguém há que lhe possa pôr o dedo em riste...

11. Aí me vêm os tradutores, todos, santíssimos, nobilíssimos, zeladores da sã doutrina, vigilantes da heresia, e, para maior glória de Deus, fazem essa lambança, corrompem o texto bíblico, adulteram a tradução - desavergonhadamente, eu diria, porque, se alunos de graduação sabem traduzir, por que não eles? Sabem, sim, senhores, sabem: é que, alguns, sequer lêem, quando traduzem, mas meramente repetem a longa fila das versões, ao passo que outros, sabedores do que vai embaixo, adulteram programaticamente, porque são zelosos da fé...

12. E eu é que sou o herege! Que orgulho, então!


*para quem não entendeu o paralelo entre Ruah e Exú, consulte: http://www.orixas.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1&Itemid=57 e http://ocandomble.wordpress.com/

terça-feira, 4 de setembro de 2012


Por que sou contra o Ensino Religioso nas escolas

Compartilho um texto bastante pertinente do Prof. Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro, disponível em:


Se ele não aprendeu, como vai ensinar?

1. Sabe aquele aluno (religioso e, não poucas vezes, pastor) que não aprendeu absolutamente nada sobre Ciências Humanas, porque o que ele aprendeu de Antropologia, Sociologia e Psicologia, no curso de Teologia, ele vomitou dez minutos antes da formatura - como é que ele vai assumir uma classe de ENSINO RELIGIOSO, cuja "filosofia" é justamente as Ciências Humanas, vedado todo proselitismo e confessionalismo?

2. Ele vai mentir?

3. Mentir para si e para a criança?

4. Ele vai fazer de conta que o que ele diz todos os dias sobre as outras religiões é mentira, e que elas são todas iguais?

5. Ele vai esquecer que diz todos os dias que Candomblé, Umbanda, Espiritismo, Islamismo (tá na moda, em "missões") e qualquer outra religião são todas coisas do diabo?

6. Ele vai esquecer isso e mentir - para si e para as crianças?

7. Ou vai mentir para a sua função e seu dever e catequizar - que é a única coisa que ele sabe fazer?

8. Uma aluna me disse: professor, pior é quando a Coordenadora é crente...

9. O problema não é apenas a sala de aula - não é apenas o professor que se servirá do sistema para "pregar o Evangelho": a estrutura inteira da Escola, se estiver na mão de crente (e de católicos?), vai se tornar em Cruzada de Jesus.

10. Alguém duvida?

11. Esse aqui, não.

12. E tenham certeza, senhores, que todos os alunos que passarem pela minha classe, na pós-graduação de Ensino Religioso, vão ouvir isso e - acreditem - um bocado mais.

13. Podem me chamar de manipulador e liberal.

14. Melhor do que manipular crianças - sempre elas, em estado de vulnerabilidade: quando não lhes metem a mão nas intimidades, lhes metem a mão na alma...

Da sub-educação teológica de nossos jovens crentes


Osvaldo Luiz Ribeiro*

1. Segunda-feira dei aula de Teologia da Educação Cristã. A turma é híbrida - tem alunos de segundo período e alunos novos, de primeiro período. Você vem no embalo, com os alunos mais velhos (seis meses) e, súbito, o trem para na estação para pegar passageiros novos...

2. Em nenhuma disciplina do planeta, salvo aquelas que exigem pré-requisitos técnicos, isso seria um problema. Mas é teologia. Ninguém está, nunca, pronto para aulas acadêmicas de Teologia.

3. Na segunda, alguém já pergunta a um aluno antigo, depois da aula (escuta, esse professor é ateu?). Ontem, durante a aula de outro professor, perguntam a ele se o professor Osvaldo é crente...

4. Já falo sobre isso. Antes, comentar que é o eterno fluxo das novas fornadas. Todos os anos, alunos entram nas salas de teologia, vindos de suas respectivas EBD. O choque é inevitável, se você respeita a sua profissão de educar. Seis meses depois, já entenderam a coisa toda, um ano depois, começam eles mesmos a fazer os seus próprios questionamentos.

5. Mas as primeiras aulas, inevitavelmente, cabelos arrepiados, carnes trêmulas, ossos retesados, coração paralisado, susto...

6. Alunos novos de teologia...

7. Já disse aqui, outro dia, que considero criminoso o que se faz com os crentes. E o que eles mesmos deixam que façam com eles. Porque não se educam os crentes: se encabrestam. Pensar, nem pensar! Refletir, só a partir do dogma. Liberdade, só de falar mal dos outros, da religião dos outros, mas, para olhar para sua própria fragilidade, não.

8. São vítimas, coitados. E, todavia, vítimas que se tornam, algumas vezes, insuportáveis, porque se trata de uma situação de alienação engajada, a alma se torna violenta, o espírito, de Cruzada. Não são coisa com que se deva preocupar, mas quanto ao estado dessa mente, dessa alma, toda dor que se possa sentir por elas é pouco: estão aleijados, aviltados, violentados.

9. E usaram Deus, a fé e a Bíblia para isso...

10. Na sala de aula, não encontraram - muitas vezes! -, eco doutrinário. Mas isso não é o pior. Porque até poderiam encontrar eco doutrinário contrário à sua fé. No entanto, entrar numa sala de aula, você batista, e deparar-se com um calvinista a distribuir pérolas de Calvino apenas reforça o "jogo" da fé dogmática, o aluno batista faz-se ainda mais batista, ainda mais cruzado, ainda mais "fiel" - na verdade, ainda mais prisioneiro da "Ideia" que o controla e manipula 24 horas por dia...

11. Quando, todavia, ele encontra um professor, dois, três, que, em lugar de se pronunciarem desde uma posição doutrinária, posicionam-se fora do campo de atuação da doutrina teológica, assumem uma meta posição teórico-metodológica para, desde lá, analisar, como iguais, todas elas, todas as doutrinas, todos os dogmas, cristãos ou não, como fenômenos de cultura, fenômenos humanos, condição necessária para o estudo delas, aí, senhores, os "zumbis da fé" entram em colapso, porque, para eles - anotem: para eles - essa é uma posição de não-fé, de ateísmo, de apostasia...

12. Não entendem, mas entenderão, é uma questão de tempo - que o estudo e a pesquisa impõe a você uma meta-posição, a olhar as coisas desde fora, com o máximo de isenção e crítica possível. Mais ainda, não sabem nada de teologia, nada, nada vezes nada, e chegam em sala de aula como se soubessem tudo, porque a EBD lhes ensinou: seus pastores são criminosos, senhores, criminosos...

13. Aos novos alunos, eu diria, como disse, que devem fazer como Maria: guardem as coisas no coração, esperem, tenham paciência, estudem, leiam, reflitam, deem tempo ao tempo.

14. Aos demais, aos pastores, principalmente, eu diria que passou da hora de agir de modo humano com esse povo. Não é necessário acabar com as doutrinas, admito. Mas a catequese devia fazer-se no campo da pluralidade. Os meninos e as meninas "educados" (?) na Igreja deveriam aprender que essa doutrina assim e assim é representativa dessa igreja, mas não daquela, que, naquela, a doutrina é assim assado. Eles aprenderiam que o que têm na mão são tradições históricas, e que há outras, e, mais do que isso, que, acima de todas elas, se pode por-se a estudá-las como fenômeno humano.

15. Mas não: fazem-se de Deus os pastores, e inculcam na cabeça vitimada dos meninos e das meninas essas mesmas tradições, mas com o rótulo de verdade, de inquestionável verdade. Crime.

16. A educação teológica deve enfrentar essas situações - mas não porque isso faça parte da "educação" religiosa: é um acidente que poderia ser evitado. Mas acredito cada vez menos que será, porque, entra ano, sai ano, e lá se vão mais de 20, e a história se repete: a cada nova fornada, biscoitos cada vez mais assados... Ou menos. No ponto, um ou dois...

17. Ah, quase ia esquecendo de responder as duas perguntas: se sou ateu? Se ser ateu é recusar-se a repetir os credos, porque não os pode assumir como outra coisa que não tradição humana, e que como tal os reconhece e como tal os estuda, então sim. Se sou crente? Bem, o diabo é. Faz diferença?

*Osvaldo Luiz Ribeiro é doutor em teologia pela PUC-Rio e professor da Faculdade Unida de Vitória.

(2012/665) Vamos usar a metáfora da Bíblia como cocaína?

1. Eu mesmo, quando vi a foto da Bíblia sendo "cheirada", senti um arrepio de indignação e "nojo". Achei-a, de pronto, de péssimo gosto, e o disse no facebook. Todavia, um senhor golpe de marketing, ainda que não tenha sido programado - mas essa igreja vai aumentar exponencialmente seus seguidores por conta desse golpe de sorte midiático, essa mídia gratuita que a exposição da imagem renderá. Nossa massa popular está pronta para essas coisas. Quanto mais escabrosa, mais seguidores. É a época dos shows, das imagens, da loucura completa...

2. Aqui, quero aproveitar a "onda" e usar a metáfora da Bíblia como droga...

3. E é. A Bíblia, cheirada, fumada, picada na veia, é vendida em diversas bocas denominacionais. Vende tanto a droga, que já não é possível nem falar em bocas denominacionais apenas, que ainda há, e muitas, mas em bocas empreendedoras, de iniciativa privada - qualquer um abre uma boca e vende a sua droga...

4. Nessas bocas - denominacionais ou empreendedoras, de CNPJ ou CPF, tanto faz - só se vende um tipo de droga: você usa assim, e todo mundo que ali consome a droga consome daquele jeito. Na outra boca, ensina-se a cheirar com canudinho. Na outra, picada na veia. Na outra, adesivo na pele. Na outra, num narguilé espiritualóide.

5. Se alguém denuncia a venda de droga, um auê se instala. Usar a droga de modo alternativo, crítico, não: não pode. Fuma, até os olhos ficarem brancos... Seguem-se orgias espirituais...

6. A foto pode chocar - e choca, porque é de baixíssimo nível. Mas é reveladora. É exatamente isso em que a Bíblia se tornou - uma droga...

7. Já vejo os tradicionais se levantarem de suas cadeiras, horrorizados - Osvaldo nos põe no mesmo nível desse "doido". Sei que a reação virá, porque é o mesmo com as igrejas neo - quando digo que é tudo a mesma coisa (em certo nível de análise), aborrecem-se. Mas é tudo a mesma coisa (em certo nível de análise). Da mesma forma como todos vendem a mesma coisa como droga...

8. Drogas de constituição química, dosagem e efeito diferenciado - mas, tudo, droga. Você não pode, nunca ficar sóbrio: é para embebedar-se - e quanto mais loucura, quanto mais maluquice, melhor.

9. Mas o conceito de droga é muito fluido, e você não precisa pensar exclusivamente em cocaína, como a foto-imagem sugere. Pode ser álcool - o álcool do Espírito, que embebeda -, pode ser cafeína - a cafeína do ativismo alucinado -, pode ser anfetaminas e comprimidos para dormir - e quanto não se dorme a vida inteira, embalado em fantasias!

10. Quando, em plena era e guerra do ópio, Marx usou a metáfora dessa droga para a religião, não imaginava que inaugurava - se é que ela não fora usada antes - uma metáfora apropriadíssima para os séculos XIX, XX e, sobretudo, esse nosso, XXI, sociedade de consumo de droga. Entre elas, essa, que, agora, sequer se constrange de ir a público confessar sua condição narcótica.

11. Fuma, não, gente. Cheira, não! Pica, não, gente! Leia, leia com seriedade, com crítica, desmonte de sobre ela o jugo narcótico, o encantamento entorpecente. Desnude esse livro, ele e seus gerentes: acerte as contas com a sua tradição...

12. Se eu acredito que vai acontecer? Não. Nem um pouco. A tendência é piorar - porque, quando você acha que já viu de tudo, nem imagina o que está por vir...

13. O quê? Você tinha medo do anti-cristo... Então espera para ver o reino evangélico...

14. Porque, por favor, preste atenção: você pode ir ao Santo Daime, tomar o "soma" do cipó enteógeno, ficar muito doido, viajar até Andrômeda, vomitar horrores, ver as mirações que desejar ver, tudo bem, que, depois do rito, você volta para casa e a vida continua na normalidade. O rito fica lá, no lugar do rito...

15. A desgraça - DESGRAÇA - dessa coisa evangélica - e cada vez mais demente - é que a loucura não fica lá no lugar da loucura: ela quer invadir a sociedade, o Legislativo, o Judiciário, o Executivo, a minha casa, a sua, a minha mente, a sua - não é penas droga, é doença.

16. Não, não haverá cura. Sou pessimista.

17. Oxalá um péssimo filhote de Nostradamus...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO